O meu nome é Aladje Adulai Djaló. Sou Técnico de Energia da Ação Ianda Guiné! Lus ku iagu. A Ação está dividida em duas componentes: Água e Energia. Eu trabalho na componente de Energia que consiste na construção de uma central e de uma rede elétrica em Bolama. No ano passado tivemos o desafio de formar uma rede de técnicos na região de Oio. Graças a Deus conseguimos concretizá-lo e agora estamos na fase de supervisão e apoio para que se insiram no mercado. A nossa componente é mais focada na central de Bolama. A minha função aqui no local de trabalho é dar seguimento ao todo o trabalho técnico, garantir o cumprimento contratual com as entidades que nos prestam serviço, fazer relatórios técnicos e diagnósticos que ajudam a fundamentar decisões a nível técnico.
Especificamente a Ação Lus ku iagu toca em duas componentes muito sensíveis a nível mundial, mas ainda mais críticas na nossa região da África subsaariana. São os objetivos 6.º e 7.º do desenvolvimento sustentável: Garantir o acesso à água de forma sustentável e garantir energia barata a partir de fontes de energia renováveis. Este projeto está a ajudar a Guiné-Bissau a dar os primeiros passos para o cumprimento desses objetivos. A nível local sabemos que onde há energia, o desenvolvimento é impulsionado. Não só a nível político, económico, cultural, aumenta o nível de vida da população. A intenção é esta: dar aquele primeiro passo para impulsionar o desenvolvimento noutros segmentos.
A central (de Bolama) diz-se solar, mas na verdade é uma central híbrida. Nos dias normais irá funcionar como uma central solar. Os painéis solares irão converter a energia do sol em energia elétrica e fornecê-la à população. Mas sabemos que a Guiné é um país tropical, tem época chuvosa durante a qual há dias sem sol. Nesses dias é preciso um sistema de back-up, em que os geradores a diesel – gasóleo – fornecem energia enquanto não há sol. Ou quando a energia termina no banco de energia durante a noite, o sistema de back-up irá sustentar a rede enquanto a central não converte energia solar.
Eu nasci em Bafatá, no Bairro 3. Sou filho de um então jovem bibliotecário e de uma jovem guerreira que decidiram dedicar a sua juventude ao bem-estar dos seus filhos. Hoje em dia vêm os seus sonhos realizados. Sou engenheiro de energia por formação. Formei-me no Brasil. Agradeço muito ao povo brasileiro pelo acolhimento e pelos privilégios e oportunidades que o Brasil me deu. Hoje em dia ajudo a Guiné-Bissau. Sinto que contribuo para o seu desenvolvimento.
A Engenharia da Energia é um curso que ainda não existe cá (na Guiné-Bissau) e nem em Portugal, acho. Existe uma diferença entre Engenharia da Energia, Engenharia Elétrica, e Engenharia Mecânica. Em Portugal conhecemos mais o curso de Engenharia Eletromecânica mas este curso (Engenharia da Energia) foi criado justamente para formar engenheiros eletricistas com um olhar mais crítico a questões ambientais. Pesquisa fontes de energia mais sustentáveis em relação aos caminhos que trilhávamos de antemão. Queremos apenas criar energia para desenvolver a indústria e tal. Mas não! Hoje em dia precisamos de engenheiros mais solidários, mais humanos, mais críticos a questões ambientais. É nesse sentido que estão a ser treinados profissionais neste domínio.
De antemão ouvíamos apenas “central”, “grupo de gerador” … Mas agora esses grupos de gerador são como um sistema de back-up. Temos uma central que converte a energia do sol e fornece energia elétrica às pessoas. Não polui o ambiente, não queima nenhum tipo de combustível, não lança dióxido de carbono para a atmosfera. É um processo limpo, digamos assim. O seu processo de conversão é 100% limpo. Diferentemente dos grupos de geradores que são um processo de combustão: queimam combustível. Geram energia mecânica e depois convertem para energia elétrica. Mas aqui (na central de Bolama) o processo de conversão do sol em energia elétrica é direto. E limpo.
Um sonho pessoal é ser um grande pai para o meu filho. E por inerência da minha própria formação também (sonho) contribuir para que a Guiné-Bissau alcance o sétimo objetivo de desenvolvimento sustentável. A nível profissional, por causa deste projeto, um sonho que tenho é de ver a central de Bolama a funcionar a todo vapor. Quero vê-la com energia gerada, o primeiro disjuntor, as primeiras pessoas com luz em sua casa… Epá, é um sonho grande…
A palavra desenvolvimento é muito discutida, do ponto de vista sociológico cada um diz que (o desenvolvimento) é algo diferente. Mas não quero entrar nisso. Pessoalmente, vejo o país como uma associação: tem órgãos sociais, entidades internas que traçam os objetivos que se quer atingir. Cada uma destas entidades trabalha para chegar ao porto traçado. Temos a Presidência, o Governo, se estas entidades trabalham para atingir os objetivos como garantir a educação para toda a população, saúde, boas infraestruturas… Quando conseguem cumprir estes objetivos tornamo-nos num país desenvolvido. Mas isto não é algo que se cria e atinge, há um caminho a traçar. E consoante crescemos para chegar a esses objetivos, chegamos ao desenvolvimento, para mim.
Penso que a Guiné-Bissau é um país que tem tudo para dar certo. É um país abençoado por Deus. Nós é que ainda não conseguimos encontrar o caminho certo para andar, mas somos muito abençoados. Porém este atraso que temos tem o seu lado bom. Vemos que o mundo já traçou um caminho e está provado que não é bom. Falo do setor da energia, do uso excessivo de combustíveis fósseis. O mundo está a voltar para trás e a seguir outro caminho e nós ainda estamos no ponto zero, no ponto inicial. Podemos escolher o nosso caminho. Devemos ter um olhar positivo, ver o lado bom das coisas. Temos tudo para dar certo.
Quero dizer que todos nós podemos sonhar. Temos de acreditar em nós mesmos porque só nós podemos concretizar esse sonho, mais ninguém. Temos de andar com os nossos próprios pés e com a nossa própria cabeça, como nos dizia Cabral. Guiar a nós mesmos para concretizarmos os nossos sonhos.
Agosto de 2022
A série de testemunhus Bim Kunsinu (Venha conhecer-nos, em crioulo) é criada a partir dos testemunhos de funcionários das Ações Ianda Guiné, dados no contexto do programa radiofónico produzido pela Unidade de Coordenação. Cada funcionário descreve, em crioulo, as suas funções dentro da respetiva Ação, o seu percurso profissional e de vida, e os seus sonhos pessoais e para o futuro da Guiné-Bissau. Queríamos que estes testemunhos saíssem do plano radiofónico e alcançassem o público que nos acompanha virtualmente, para que as histórias de vida destes funcionários sejam conhecidas. Cada testemunho Bim Kunsinu foi transcrito, traduzido e editado para clareza das entrevistas radiofónicas originais.