Chamo-me Helga Garcia. Trabalho no Ianda Guiné! Djuntu no GAP (Gabinete de Apoio Permanente). Sou técnica de Receção e Avaliação. Uma das minhas responsabilidades é fazer a receção de pedidos e projetos, avaliação e verificação no terreno, e operacionalização. Gosto do meu trabalho, principalmente porque me põe em contacto com a comunidade. Numa das fases de avaliação – verificação no terreno – deslocamo-nos às comunidades para falar com elas e perceber qual a pertinência do problema do pedido que estão a fazer.
Nasci na Guiné-Bissau. Estudei cá até ao 11.º ano e, porque a guerra coincidiu com o fim do liceu, estive em Cabo Verde alguns meses e depois fui para Portugal. Em Portugal fiz uma licenciatura em Antropologia e trabalhei nalgumas áreas não ligadas à minha formação. Trabalhei em restauração, comércio, e assim.
Quando decidi voltar para a Guiné trabalhei primeiro com uma dupla de consultoras estrangeiras que estavam cá na altura. Foi o meu primeiro trabalho quando cá cheguei, em 2018. A seguir trabalhei num projeto da OGD (Organização Guineense de Desenvolvimento) e depois vim para o Ianda Guiné! Djuntu.
Como mulher o meu sonho sempre foi conseguir ter uma licenciatura, uma graduação superior. Depois disso conseguir um trabalho. No mundo em que vivemos hoje em dia é importante ter uma educação superior. Não é o único caminho, mas é, talvez, o caminho mais seguro para conseguir um trabalho. Antes de terminar (a minha formação) pensava em voltara à Guiné e trabalhar num projeto. Era uma das possibilidades do meu regresso. Sempre pensei em terminar a minha licenciatura porque, se não o fizesse, teria mais dificuldade em conseguir realizar o meu sonho. Não só o meu sonho de ser uma mulher formada, independente, mas também, para dar uma contribuição para a Guiné-Bissau. Se não quisesse dar uma contribuição não teria regressado. Lembro que quando estava a voltar muita gente me perguntou “Porque é que queres voltar depois de 20 anos fora? O que vais fazer lá?” Eu sempre pensei que deveria voltar e tentar dar um contributo para melhorar o país.
Quando entrei no projeto (Ianda Guiné! Djuntu) é que percebi qual era o objetivo, o trabalho no terreno, com as comunidades. Achei muito interessante porque iria ajudar a comunidade a trabalhar para si mesma, a pensar e trabalhar em conjunto, sem esperas. Eu faço este trabalho porque ganho um salário. Neste caso a comunidade faz o trabalho para melhorar a comunidade ou então organizações que querem melhorar e reforçar as suas capacidades.
É um projeto muito interessante que eu espero tenha impacto. Pelo que vemos, está a ter um impacto positivo. Espero que continue e mude um bocadinho a maneira de estar da população. Principalmente quem mora nas tabancas e espera ajuda vinda de fora. Talvez isto seja um incentivo para eles mesmo se levantarem e fazerem por si mesmos. Não esperar que alguém venha de fora para lhes ajudar.
Que as tabancas tenham escola, saúde de base, água. Para mim isso é o desenvolvimento, principalmente na Guiné-Bissau. Uma Guiné-Bissau desenvolvida em que os jovens possam sonhar mais e perceber que existe mais do que vêm cá. É possível alcançar mais. Se trabalharem, forem à escola, aprenderem, estudarem, podem ser alguém. Mesmo que não sejam médicos, advogados, podem ter um papel importante na sociedade.
Pelo que vejo nas comunidades às quais vamos, em algumas nota-se que os jovens são dinâmicos e querem trabalhar. Tomam a iniciativa e lideram muitos projetos e pedidos que recebemos. Nota-se que a maioria dos jovens está um bocado inerte. Buscam o dia-a-dia, e acham que deixar as suas atividades para fazer o bem para a comunidade não é importante. É mais importante conseguir o pão de cada dia.
Muitas vezes no meu trabalho digo-lhes que eles são jovens, o futuro do país. Ninguém melhor que eles para tomar a dianteira destes pequenos projetos. São coisas com as quais aprendem. Aprendem a gerir um pequeno projeto. Gerem as pequenas quantias das subvenções que lhes damos. Isso é um aprendizado para eles.
Novembro de 2022
A série de testemunhus Bim Kunsinu (Venha conhecer-nos, em crioulo) é criada a partir dos testemunhos de funcionários das Ações Ianda Guiné, dados no contexto do programa radiofónico produzido pela Unidade de Coordenação. Cada funcionário descreve, em crioulo, as suas funções dentro da respetiva Ação, o seu percurso profissional e de vida, e os seus sonhos pessoais e para o futuro da Guiné-Bissau. Queríamos que estes testemunhos saíssem do plano radiofónico e alcançassem o público que nos acompanha virtualmente, para que as histórias de vida destes funcionários sejam conhecidas. Cada testemunho Bim Kunsinu foi transcrito, traduzido e editado para clareza das entrevistas radiofónicas originais.