O meu nome é Maria Ludimila Sá. Sou funcionária da Asas de Socorro. Trabalho no quadro da Ação Ianda Guiné! Hortas como Assistente Administrativa. O meu trabalho é mais ligado às mulheres no terreno. Faço entrega de dinheiro para formações agrícolas participativas (FAP) e dou assessoria a toda a parte logística que tem a ver com a Formação Agrícola Participativa. Eu gosto do meu trabalho. Cresci no trabalho das hortas porque a minha mãe é horticultura. Ela conta que desde que eu era pequenina, “anjo” a mamar, me levava e fazia sentar enquanto regava (cuidava da horta). Cresci nesse ambiente. Ia à escola, ao sair ia regar. Foi algo que me cativou muito.
Nos primeiros anos do projeto (Ianda Guiné! Hortas no Setor Autónomo de Bissau) trabalhei como animadora. Dava formação agrícola participativa. Depois mudei. Passei a assegurar toda a parte logística. Por vezes, quando falta um animador, eu é que vou dar formação em seu lugar. Eu sou economista mas candidatei-me ao posto de animadora como algo que amo fazer. Vi que era uma oportunidade de transmitir o que eu já sabia, o que tinha aprendido. Mas depois vi um outro posto, da minha área (de formação) e acabei por mudar.
Dantes, as mulheres trabalhavam, conheciam o seu trabalho e ganhavam com ele. Mas agora as mulheres estão a ganhar mais porque este projeto mudou a sua maneira de trabalhar. Elas trabalhavam, mas investiam demasiado na compra de pesticidas e adubos químicos, que são produtos para matar bichos. Agora, com este projeto, ensinámos-lhes como fazer biofertilizantes e adubos naturais à base de esterco e palha. As mulheres estão a gostar desta atividade.
Eu sou guineense. Nasci em Bissau, no bairro de Bandim, Zona 7. A minha mãe também é de cá. Cresceu e regava no Coqueiro. Lá é que fazíamos a nossa atividade hortícola. Naquela altura, sem todo este conhecimento, lucrávamos. Graças a esta atividade (hortícola) a minha mãe tapou muitas lacunas deixadas pelo meu pai. A atividade é rentável. Não se consegue angariar dinheiro por muito tempo por ter muito para se fazer, mas é rentável. Se na altura já soubéssemos (sobre biofertilizantes e biopesticidas) não teríamos gasto tanto dinheiro, e teríamos conseguido angariar e guardar mais fundos, apesar das despesas da atividade hortícola.
Tenho a certeza que este projeto vai mudar muita coisa. Principalmente a nossa saúde. As horticultoras trabalhavam com os produtos químicos e elas mesmas se queixavam de muitas dores! Nos olhos, nos pés… Mas contámos-lhes que isso tudo eram efeitos dos produtos que elas usavam. Com os produtos biológicos, naturais, que elas usam agora percebem que, de facto, os produtos com que trabalhavam antes é que afetavam a sua saúde. E não só. Como consumidores, quando compramos produtos químicos estamos a afetar a nossa saúde.
Existem problemas na irrigação. Também problemas de pragas, de plantações que não crescem. Porquê? São os químicos que enfraquecem o nosso solo. Mas este projeto está a ajudar as mulheres a recuperar o seu solo. Quando fazem adubação de fundo com estrume curtido, com as folhas que tiram das hortas… Antes tiravam as folhas do repolho e deitavam fora! Agora devolvem essas folhas ao lugar para que sirvam de fertilizante. Espero que este projeto ajude a Guiné-Bissau em termos sociais e sanitários. Em termos económicos, que ajude ainda mais.
O meu maior sonho é ser empresária. Quero ser uma grande empresária, não uma empresária pequena. Como disse, cresci na atividade hortícola. Eu é que vendia as hortaliças da minha mãe e sei o que o comércio dá. Precipitamo-nos na vida e pensamos que ir à Europa e outros sítios é a solução, mas não! Eu digo que se pegarmos no comércio, a situação atual da Guiné-Bissau vai mudar.
Penso que podemos desenvolver este país na base do comércio. Pensando em comprar produtos locais, produzir localmente para que seja consumido localmente, para que o dinheiro fique no nosso país. Quando o dinheiro fica no nosso país traz crescimento económico. Comprar no exterior e vir revender na Guiné não traz rendimento. O dinheiro fica no outro país, só o produto é que se traz. Devemos pensar mais na produção e transformação dos nossos produtos para acelerar a nossa economia.
Julho de 2022
A série de testemunhus Bim Kunsinu (Venha conhecer-nos, em crioulo) é criada a partir dos testemunhos de funcionários das Ações Ianda Guiné, dados no contexto do programa radiofónico produzido pela Unidade de Coordenação. Cada funcionário descreve, em crioulo, as suas funções dentro da respetiva Ação, o seu percurso profissional e de vida, e os seus sonhos pessoais e para o futuro da Guiné-Bissau. Queríamos que estes testemunhos saíssem do plano radiofónico e alcançassem o público que nos acompanha virtualmente, para que as histórias de vida destes funcionários sejam conhecidas. Cada testemunho Bim Kunsinu foi transcrito, traduzido e editado para clareza das entrevistas radiofónicas originais.