Chamo-me William Moacir Mondlane Correia Rodrigues. Sou engenheiro de profissão. Trabalho na UNOPS. A minha responsabilidade é de engenheiro de infraestruturas no quadro do Ianda Guiné! Estradas, financiado totalmente pela União Europeia e implementado pela UNOPS.
O meu trabalho é transversal. No quadro da implementação deste projeto, em sinergia com os meus colegas de serviço, podemos separar o meu trabalho em dois aspetos. Primeiro, a nível do escritório e depois no terreno. Aqui no escritório faço trabalho de engenharia. Verifico cálculos, faço relatórios de atividade mensal do projeto, faço inspeção e relatórios de higiene do local e segurança – aqui (em Bissau) e no terreno –assisto aos chefes do projeto na parte administrativa e técnica.
No terreno faço o seguimento do trabalho técnico. Faço controlo de qualidade de materiais, organizo e reforço as capacidades de pequenas e médias empresas na utilização da abordagem HIMO (haute intensité de main-d’oeuvre – alta intensidade de mão-de-obra, em francês), que é o método que usamos. Também assisto a comités de gestão de vez em quando, quando têm problemas de compreensão da abordagem. E também quantifico o trabalho feito para podermos pagar às empresas. Certifico-me no terreno, quantifico e depois mando para o bureau para que o pagamento seja feito.
Este trabalho coloca a questão humana no centro das suas ações, o que me faz gostar muito dele. Por exemplo o projeto tem ampla implicação social. Foca-se diretamente na mudança do quotidiano da população nas regiões de implementação. Portanto é um trabalho muito gratificante. E não em termos monetários, mas em termos de benefícios que se vêm, na gratidão e no impacto real na vida das pessoas com quem trabalhamos no terreno. Isto faz-me sentir satisfação profissional e pessoal na execução do programa.
Eu nasci em Bissau, na Avenida da Unidade Africana. A minha família é de cristãos de Geba. Também sou originário de uma família cabo-verdiana de Geba, no leste do país. Sou casado, com dois filhos. Em termos de estudos, comecei a minha formação de base na escola primária Congresso de Cassacá, atual escola Solidariedade. Depois fui para a Salvador Allende e de lá para o Kuame Nkrumah. Fiz o Tchico Té e a ENA (Escola Nacional de Administração).
Em 2001 beneficiei de uma bolsa de estudos da Cooperação Francesa. Fui para o Senegal, para a École Polytechnique de Thiès (Escola Politécnica de Tiés, em francês), que era um departamento da Universidade Cheikh Anta Diop, onde comecei os meus estudos na área de Engenharia. Em 2004 acabei. Vim integrar o Ministério das Obras Públicas, onde trabalhei até 2008, quando beneficiei de outra bolsa para continuar os meus estudos superiores na mesma área, no Burkina Faso. Fiquei lá até 2012 quando voltei para a Guiné-Bissau, para vir contribuir como qualquer outro guineense.
Trabalhei noutros países da sub-região: Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Senegal… Trabalhei em inúmeras áreas: construção vertical, desde uma simples casa até casas com sete andares, fora da Guiné-Bissau. Em estradas, trabalhei com pistas rurais, como é o caso com este projeto, estradas asfaltadas, autoestradas, pontes.
Pessoalmente, sou de religião católica. Sou responsável pela comunidade de S. Pedro, aqui na paróquia do bairro d’Ajuda, da Diocese de Bissau. Em termos profissionais quero tornar-me um gestor de projetos complexos e multitransaccionais, na área da construção civil ou noutras áreas que tenham projetos transnacionais. Acho que é uma área que pode contribuir muito para o desenvolvimento do nosso país porque temos muito por fazer, mas precisamos de executar grandes projetos para tirarmos a nossa população das dificuldades que enfrentam, sobretudo nas áreas do transporte e habitação.
O meu sonho para este projeto é que chegue até ao fim e que todos os objetivos fixados sejam atingidos. Que os beneficiários sintam o impacto do projeto nas suas vidas quando este chegar ao fim. Que o comité de gestão e toda a gente formada continue a perenizar as infraestruturas criadas para que o projeto seja um sucesso. Os que trabalhamos neste projeto só pedimos que continue nesta senda. É esse o meu sonho.
Na minha opinião, o conceito de desenvolvimento de um país está ligado à redução da pobreza extrema. Proporciona paz social. Apoiar toda a população sem deixar ninguém para trás implica toda a gente estar sob um ideal comum. Permite o acesso a serviços sociais de base de qualidade: escola, saúde. Para que as crianças no futuro sejam os nossos dirigentes, médicos, doutores, e tenham desde já condições básicas para aproveitarem o máximo possível.
Penso que a Guiné-Bissau é um país com muito potencial económico. Muitos recursos que podem ser uma alavanca para o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Através da distribuição equilibrada daqueles recursos nós todos podemos servir-nos dessa potencialidade e tornar-nos num país rico em que todos vivamos tranquilos.
Janeiro de 2023
A série de testemunhus Bim Kunsinu (Venha conhecer-nos, em crioulo) é criada a partir dos testemunhos de funcionários das Ações Ianda Guiné, dados no contexto do programa radiofónico produzido pela Unidade de Coordenação. Cada funcionário descreve, em crioulo, as suas funções dentro da respetiva Ação, o seu percurso profissional e de vida, e os seus sonhos pessoais e para o futuro da Guiné-Bissau. Queríamos que estes testemunhos saíssem do plano radiofónico e alcançassem o público que nos acompanha virtualmente, para que as histórias de vida destes funcionários sejam conhecidas. Cada testemunho Bim Kunsinu foi transcrito, traduzido e editado para clareza das entrevistas radiofónicas originais.