Óscar Mateus, 30 anos, responsável pela área veterinária da Ação Ianda Guiné! Galinhas, revê as suas anotações para prosseguir com a elaboração do relatório de atividades de 2020.
Quando nos referimos à iniciativa relativa ao fabrico de máscaras artesanais, levada a cabo ainda quando a pandemia de Covid-19 dava os primeiros passos na Guiné-Bissau, Óscar não esconde o seu entusiamo. Gesticula e vai rodopiando na sua cadeira enquanto nos revela como tudo começou.
Em março de 2020, todo o mundo estava à procura de máscaras de proteção individual. Salvo algumas exceções na Ásia, nem mesmo os países ricos tinham estoque suficiente para os seus profissionais de saúde, quanto mais para a população em geral. E claro, a Guiné-Bissau, não foi exceção. Óscar, juntamente com o colega da Mani Tese, ONG italiana que lidera o consórcio do qual o IMVF – Instituto Marquês de Valle Flôr é parceiro, inspirando-se nas máscaras inicialmente concebidas para os avicultores protegerem-se contra os danos causados por poeiras e agentes em suspensão existentes nos aviários em que trabalham, criaram um equipamento de proteção individual (EPI) reutilizável, fabricado localmente em tecido e num modelo que não só obedece às normas para proteção contra o contágio do coronavírus COVID-19, como também é de fácil replicação pela comunidade.
Em 16 de março de 2020, foram produzidos e aperfeiçoados os primeiros moldes da máscara, em colaboração com a equipa de uma alfaiataria comunitária de Antula, na cidade de Bissau.
Durante todo o processo, foram tidas em conta as sugestões de vários profissionais da área da saúde, nomeadamente com apoio da coordenação clínica do projeto PIMI II – Programa Integrado para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil, implementado pelo IMVF na Guiné-Bissau, tendo em vista a viabilidade da utilização desta máscara e o aperfeiçoamento da sua produção.
Com a devida adequação das novas máscaras e a revisão do processo de fabrico, o projeto promoveu a manufatura das primeiras 500 unidades que seriam doadas a Organizações Não Governamentais (ONG) guineenses ligadas à área da saúde. A par das máscaras em si, foram igualmente disponibilizados a estas ONG moldes do EPI para que estas pudessem promover a replicação desse modelo nas regiões onde atuam.
Estas máscaras viriam a ser essenciais na campanha de vacinação contra a doença de Newcastle e a gripe aviária, que decorreu entre 13 e 29 de maio. Óscar considera que os resultados foram notáveis, atendendo ao facto de terem sido vacinadas cerca de 11.000 galinhas em 4 regiões abrangidas pela Ação, o que representou um importante apoio a 166 famílias de pequenos e médios avicultores. Cada avicultor recebeu uma máscara para sua proteção individual.
Quando perguntamos qual o principal ativo que fica para o desenvolvimento da avicultura na Guiné-Bissau, Óscar não hesita em se referir à formação profissional de novos criadores.
Com efeito, de 12 de fevereiro a 6 de março de 2020, a Escola de Artes e Ofícios de Quelelé, em Bissau, acolheu o 1.º Curso Profissional em Avicultura e Veterinária, promovido pela Ação Ianda Guiné! Galinhas, que abrangeu 21 formandos produtores e empreendedores em avicultura.
Esta formação profissional teve como objetivo permitir aos participantes aprofundar conhecimentos na área avícola e da saúde animal, capacitando-os de forma a que possam contribuir com o saber-fazer, em bases mais sustentáveis, para o desenvolvimento desse setor na Guiné-Bissau, através do desenvolvimento de iniciativas próprias de criação de galinhas e de serviços que possam vir a prestar a terceiros.
A formação contou com a colaboração de docentes da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança e de técnicos da Direção Geral de Pecuária da Guiné-Bissau.
Em jeito de conclusão, Óscar esclarece que já está a preparar a próxima campanha de vacinação, bem como o 2.º Curso Profissional em Avicultura e Veterinária. E remata, parafraseando uma tirada habitual no mundo futebolístico: “Em atividades que ganham não se mexe!”.
A Ação Ianda Guiné! Galinhas é implementada pela ONG italiana MANI TESE, pela ONGD Portuguesa IMVF, pela ONG guineense Asas de Socorro e pela Universidade de Turim, com o apoio do Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança, no âmbito do programa da União Europeia Ianda Guiné!