É difícil chegar a Santa Clara. Escondida no coração do parque nacional de Cantanhez, em Tombali, no sul da Guiné-Bissau, a pequena tabanca de cerca de 130 habitantes vive discreta entre afluentes do rio Cumbija e uma zona extensa de bolanha, que permanece inundada na maior parte do ano.
O acesso à aldeia é feito no meio das parcelas de arroz, onde uma pequena ponte rudimentar improvisada com galhos e troncos de árvores nos transporta, de maneira imprecisa, entre os diques que protegem os campos de produção das águas que chegam do rio, com elevada salinidade.
“A parte hidro(agrícola) já está terminada” diz com tranquilidade Amadú Sadjo Baldé, engenheiro agrônomo de 46 anos da ONG LVIA – Associação de solidariedade e cooperação internacional, organização italiana que tem a seu cargo a implementação de Ianda Guiné Arrus, uma das oito Ações do Programa Ianda Guiné, da União Europeia. “Agora estamos na parte da sementeira, de distribuir a semente aos produtores e trabalhar para aumentar a produção”.
Como fomos aprendendo, a gestão hídrica é fundamental na produção de arroz, o principal alimento da população guineense. A presença de água salgada na bolanha é importante para limpar o terreno antes da plantação. Depois disso, é a água doce que permite o desenvolvimento da produção. Neste contexto, a falta de controlo da água pode implicar a perda total da colheita de um ano.
O Programa Ianda Guiné apoia as comunidades a reabilitar as bolanhas e a garantir uma produção de arroz sustentável e de qualidade, que permita melhorar as suas condições de vida. Mas entre o rio e a bolanha, Santa Clara ainda luta para ter água própria para consumo humano.
“As dificuldades de acesso impossibilitam a deslocação de equipamentos para fazer um furo de água na tabanca”, refere Pedro Silveira, responsável pela componente de água da TESE, a ONGD portuguesa que implementa Ianda Guiné Lus ku iagu, a Ação dedicada às intervenções de água, energia e saneamento do Ianda Guiné. Para o bioengenheiro de 32 anos, a intervenção técnica em Santa Clara tem de adequar-se às condições do território, que atualmente não são as mais favoráveis.
As deslocações são um problema recorrente na Guiné-Bissau. No caminho para a comunidade percorremos durante duas horas, em Toyota Hylux, a floresta densa de Cantanhez. A viagem é agora muito mais rápida e segura com a reabilitação das pistas rurais promovida pela União Europeia, que, através da UNOPS, o departamento das Nações Unidas para Serviços e Projetos, reabilitou as pistas entre Gileje e Cabedu (projeto UE – ACTIVA) e agora, no âmbito da Ação Ianda Guiné Estradas, complementou com o troço entre Cabanta e Cafine, passando por Cafal, última morada antes de chegarmos a Santa Clara.
Neste contexto, a solução para o problema da água “foi a melhor possível nas condições atuais”, acrescenta Pedro Silveira, enquanto nos guia numa visita às novas fontes que abastecem de água a comunidade. Santa Clara dispõe agora de dois poços tradicionais melhorados. Um deles foi construído de raiz, o outro foi reabilitado a partir de uma escavação realizada pela comunidade.
Tio Biquée, um dos “homens-grandes” de referência da população, está contente. “Desde o fim da luta armada que pedimos uma nova fonte de água”, afirma enquanto nos recebe com um sorriso largo e afável. Quanto à frágil passagem de Santa Clara, a componente Arrus do Programa Ianda Guiné vai iniciar a construção de uma nova ponte, depois da época das chuvas de 2023, para assegurar um trânsito seguro para a comunidade.
Ianda Guiné é um Programa da União Europeia que tem como objetivo fortalecer a resiliência e aumentar as oportunidades socioeconómicas para o povo da Guiné-Bissau.