A Ação Ianda Guiné! Arrus acumulou, ao longo dos últimos anos, uma ampla experiência e conhecimentos sobre a produção de arroz de mangal.
A Ação utilizou metodologias de trabalho que envolveram os agricultores na busca de soluções para os seus desafios, partindo da valorização do saber local e introduzindo uma componente de experimentação e testagem. Foram instalados campos de experimentação e campos de demonstração nas zonas de intervenção, onde a equipa técnica desenvolveu diversas atividades experimentais com o objetivo de analisar as técnicas tradicionais, e verificar a aplicabilidade de novas técnicas. Os campos demonstrativos foram instalados junto às comunidades, para a realização de ações de formação e para dar a oportunidade de observar a utilização de diferentes técnicas em todas as fases de produção do arroz.
A Ação organizou ainda intercâmbios nacionais e internacionais entre produtores, para promover a troca de experiências na prática de diferentes metodologias e dar a conhecer novas técnicas de produção. Através destas atividades, os agricultores puderam tirar conclusões e fazer as suas próprias escolhas, baseadas nas evidências que constataram.
Ao nível do ordenamento hidroagrícola, a Ação introduziu ainda uma abordagem participativa e concertada para a gestão da água de acordo com as necessidades das diferentes fases de produção do arroz. Todas estas ações apostam numa lógica de sustentabilidade, com o objetivo de valorizar o conhecimento local e de facilitar a vida dos agricultores através da aquisição de novas práticas adaptadas, tornando-os mais resilientes.
O estudo comparativo sobre os rendimentos da produção de 2022, elaborado por um laboratório independente de tratamento estatístico, revela que a combinação de ações de melhoria de gestão da água e de técnicas agronómicas tem surtido efeito no aumento de produtividade. Em média os rendimentos de produção aumentaram 451 Kg/ha ou 48,77% nas áreas de intervenção da Ação Ianda Guiné! Arrus em relação a outras tabankas onde não houve intervenção. Os produtores chegam mesmo a argumentar que o arroz produzido foi suficiente até à campanha agrícola seguinte. Verifica-se, assim, que este aumento traduz-se numa potencial melhoria dos rendimentos económicos das famílias e da disponibilidade alimentar.
Boas práticas agronómicas na bolanha de mangal
Redução da densidade: Não espalhar bem a semente, transplantar 8 a 25 pés por cova ou utilizar 80 a 150 kg de sementes, eram hábitos comuns dos agricultores de arroz antes da implementação da Ação Ianda Guiné! Arrus. Verificava-se uma elevada redução da produtividade e baixa resiliência das plantas. A redução da utilização de sementes para 250 gr/m2 nos viveiros, a colocação de apenas três plantas por cova durante o transplante ou a utilização de 15-30 kg/ha de semente, foram novas práticas agronómicas que os agricultores adotaram. Estas práticas foram adquiridas através das ações de demonstração e formação, e posteriormente implementadas pelos próprios agricultores nas suas produções. Os agricultores constataram que estas boas prática têm como vantagens a diminuição de gastos com as sementes e o aumento da produção. Os resultados foram tão animadores que neste momento, a prática de reduzir a densidade, foi difundida para outras comunidades fora da área de intervenção da Ação.
Mecanização da lavoura: A falta de mão de obra é um desafio constante com que os produtores se deparam. Muitas bolanhas são abandonadas ou muitas vezes os agricultores vêem-se obrigados a gastar muito dinheiro na contratação de grupos de lavoura. A mecanização na Guiné-Bissau é ainda pouco praticada na rizicultura de mangal. A ação experimentou a possibilidade de trabalhar áreas de bolanha alta de forma mecanizada, com motocultivador ou trator em alternativa à técnica de compor camalhões manualmente. A introdução da mecanização nestas bolanhas levou a um aumento da produção, alcançando um padrão de 2,55 t/ha e à redução do tempo e dos custos. Já em 2023, os agricultores encorajados pelos resultados positivos tiveram a iniciativa de se organizarem para contratar tratores que lavraram mais de 16 ha de bolanha alta, com este sistema entre o mês de fevereiro e as primeiras chuvas.
Compostagem: A produção de mudas em viveiros é fundamental na produção do arroz, e é normalmente realizada nas bolanhas (Tombali) e nas moranças (Encheia). Em Encheia o viveiro é feito sempre na mesma parcela, pelo que ao longo das décadas o solo perde completamente a sua fertilidade transformando-se em areia. A hipótese de melhorar a fertilidade das próprias bolanhas seria de difícil implementação e o impacto ambiental seria elevado, pelo que a Ação apostou em trabalhar a fertilidade em fase de viveiro. Esta fase inicial do arranque das plantas é primordial para aumentar o vigor das mudas, diminuir a suscetibilidade a doenças (Pyricularia orizae) e favorecer um desenvolvimento radical maior. A Ação apostou em dotar os agricultores de competências para produzirem o seu próprio composto partindo dos materiais que têm disponíveis e a aplicação do composto na fase do viveiro.
Escolha correta da variedade: A qualidade da semente outro fator importante para garantir uma boa produção e adaptação às condições climáticas de cada zona. As sementes de alta qualidade resultam em plantas vigorosas e bem desenvolvidas. As bolanhas podem ser altas ou profundas, em função do tempo de permanência da água. As bolanhas altas normalmente localizam-se mais acima e tendem a secar mais rapidamente, enquanto as bolanhas profundas estão perto do dique de cintura e têm água durante mais tempo. A seleção varietal permite ao produtor escolher a tipologia da semente em função de diferentes parâmetros como: tipologia da bolanha (alta ou profunda); existência de pássaros; problemas com fungos; bolanhas com nível elevado de salinidade do solo; etc. Com estas informações o produtor pode selecionar as sementes de acordo com as necessidades particulares de cada bolanha e garantir um elevado nível produtivo. A escolha da variedade correta é fundamental para uma gestão inteligente da produção e todo o trabalho envolvido. A homogeneidade das variedades puras permite ainda que os agricultores planeiem em diferentes semanas as colheitas das variedades de ciclo curto (bolanha alta) e de ciclo longo (bolanha profunda). Ao logo da implementação da ação foram organizados eventos de divulgação e de intercâmbio para apresentar as variedades, dando a possibilidade a agricultores, provenientes de diferentes áreas de intervenção, de observarem e compararem as particularidades das diferentes variedades
Rede de Agromultiplicadores: Garantir o acesso à semente de qualidade é uma condição indispensável para o aumento da produção. A qualidade é determinada por dois fatores principais: a elevada germinabilidade e a correspondência das variedades, ou seja a pureza varietal. Para garantir a disponibilidade de sementes de qualidade, que têm em conta esses fatores, foi criada a rede dos agromultiplicadores de semente. Esta rede é composta por agricultores empreendedores que seguem um protocolo de produção, agregam-se em núcleos produtivos com área mínima de 1 ha (ilhas) e passam por controlos externos do processo para a produção de semente certificada e pura. O sistema dos agromultiplicadores multiplica a semente até alcançar quantidades que permitam fornecer sementes a agricultores de arroz alimentar. A utilização de sementes de qualidade aliada a boas práticas agrícolas permite aumentar a produção. Entre 2019 e 2023, o Ianda Guiné! Arrus distribuiu sementes que permitiram cobrir 5314 ha nas áreas de intervenção.
Ianda Guiné! é um programa da União Europeia na Guiné-Bissau. A Ação Ianda Guiné! Arrus é implementada por LVIA, UNIVERS-SEL, RESSAN-GB e AD – Ação para o Desenvolvimento.