O meu nome é Eliezer Muatizy Gomes, filho de Daniel Gomes e de Segunda Gomes da Silva. Tenho 22 anos de idade e sou estudante da formação em reparação de bombas, pequenas redes de água e sistemas solares fotovoltaicos na Escola Vocacional de Bissorã, no quadro da parceria com a Ação Ianda Guiné! Lus ku iagu.
Primeiramente, gostaria de falar das mudanças que notei na minha vida desde que cheguei nessa escola. São muitas. Tornei-me uma pessoa responsável e determinada. Aprendi o que é realmente ser um homem. Ganhei a experiência de trabalhar em equipa. Aprendi a controlar a minha emoção e o meu nervosismo e a dominar a minha autoestima. De salientar que os primeiros dois meses não foram nada fáceis porque tudo era novo. Ter deixado a minha família, os meus amigos, a minha casa, os meus hábitos e a minha sociedade para vir integrar um novo mundo, conhecer novas pessoas, viver numa realidade diferente mexeu muito com os meus estudos. Graças a Deus no início do terceiro mês consegui-me adaptar a tudo e entrar no ritmo.
Em segundo lugar, vou falar da experiência profissional que adquiri ao longo dos seis meses do curso de manutenção e reparação de bombas. Aprendi sobre a importância da Água para a sociedade. Vi que o simples gesto de abrir uma torneira faz-nos esquecer até que ponto a Água é indispensável. Fazendo uma reflexão profunda sobre esse assunto ganha-se a ideia clara de quão é importante a valorização e proteção desse líquido tão precioso. Outras experiências foram sobre as pontes de água, neste caso os furos e os poços, e também sobre a bomba Inkar e o Hidro Vergnet 3C. Ganhei a oportunidade de sair para o estágio de um mês no setor de Nhacra e durante todos os dias estive um contato direto com a bomba Inkar fazendo o diagnóstico e a manutenção da mesma.
Durante o curso também recebemos dois pacotes de formações complementares. Um que se trata de Controle e qualidade de água e saneamento básico. Outro , que recebemos, já na fase final do curso, trata-se de mWater, um aplicativo de inquérito em diversas áreas. São coisas que eu não sabia.
Com todos esses conhecimentos que adquiri ao longo do curso quero num futuro próximo dar a minha contribuição aplicando a minha competência no setor da Água na Guiné-Bissau. Usar as minhas experiências para diminuir as dificuldades das famílias nas zonas com menos desenvolvimento, usar as técnicas que recebi para acabar com o consumo de água contaminada e poluída. Formar e informar as comunidade sobre controle e qualidade de água e medidas de prevenção e de cuidados com a poluição do meio ambiente.
Agradeço a Deus pela força e capacidade que me deu ao longo do curso. Gostaria também de agradecer aos parceiros TESE e ADPP, à Direção da EVB pela confiança que depositaram em mim. Sem esquecer os meus professores, em especial o meu professor do curso. Por fim agradecer à minha família pelo apoio e confiança.
Agosto de 2021
Eliezer Muatizy Gomes
Contexto
A intervenção da Ação Ianda Guiné! Lus ku iagu, implementada pela TESE, ADPP e ASPAAB, centra-se na melhoria das infraestruturas de distribuição de água e energia e de serviços de saneamento básico, aliadas a uma gestão transparente e eficiente dos serviços, beneficiando famílias e comunidades em áreas rurais e semiurbanas até 2024 nas regiões de Bafatá, Bolama/Bijagós e Oio.
Visando contribuir para uma gestão adequada do fornecimento de serviços de distribuição de água e energia prevêem-se atividades de formação e capacitação, tanto a nível técnico, como de gestão, a partir de serviços locais. Isto permitirá, a curto prazo, diminuir a dependência de técnicos e da disponibilidade de peças que se encontram na capital, em Bissau, ou, até mesmo, no estrangeiro. Esta meta será atingida através da formação e capacitação técnica em reparação de bombas, pequenas redes de água e sistemas solares fotovoltaicos.
Nesta série, intitulada Tustumunhu Lus ku iagu (testemunhos, em crioulo), vamos focar nos 30 técnicos a serem formados em instalação e manutenção de bombas de água e sistemas fotovoltaicos para criação de próprio negócio. Estes estão a ser formados em regime de internato e certificados através da Escola Vocacional de Bissorã (gerida pela ADPP, co-implementadora da Ação). Os técnicos formados serão aprovados e certificados pela Escola e integrados numa lista oficial de técnicos reparadores pela Direção Geral de Recursos Hídricos. Receberão ainda um veículo de serviço (bicicleta), equipamento de proteção individual, uma mala de ferramentas e um smartphone, enquanto incentivo para início das suas funções.
Os 30 futuros técnicos passaram por um processo de seleção de várias fases. A primeira foi a da pré-seleção. Foram identificados pelos pontos focais das localidades de intervenção, pelo menos, dois candidatos, com base em requisitos específicos apresentados pela Ação Lus ku iagu. Após a identificação dos candidatos, foram realizadas entrevistas e um teste de pré-seleção. Os candidatos com melhor aproveitamento nesta fase, foram encaminhados para a fase de seleção prevista pela Escola Vocacional de Bissorã, onde foi aplicado um teste de admissão. Os trinta técnicos selecionados iniciaram a formação no mês de fevereiro de 2021 e irão concluir no mês de dezembro.
Leia a história de três desses formandos, escrita por cada um deles e editado para clareza: Alfa Embaló, Eliezer Muatizy Gomes, e Idjatu Djaló. É de ressalvar que, apesar dos esforços da Ação Lus ku iagu para incentivar candidaturas femininas, Idjatu Djaló foi a única a passar o processo de seleção e a participar agora da formação.