Eu chamo-me Idjatu Djalo. Tenho 30 anos de idade. Sou filha de Gassimo Djalo e de Bambe Sanha. Sou natural de Bissorã, região de Oio, Guiné-Bissau, e formanda em reparação de bombas, pequenas redes de água e sistemas solares fotovoltaicos na Escola Vocacional de Bissorã, no quadro da Ação Ianda Guiné! Lus ku iagu.
Primeiro quero expressar algo que me marcou durante os primeiros meses da formação. Como sabem sobre a realidade da Guiné-Bissau, a participação das mulheres no processo da formação técnico-profissional é abaixo das expetativas. Este facto dificultou bastante a minha tomada de decisão para integrar no projeto da bolsa de estudo.
Quando cheguei à escola encontrei várias regras de convivência. A escola tinha o seu regulamento interno para certas atitudes que já eram meu hábito e com base neste tornei-me, hoje, numa pessoa responsável e determinada. Aprendi o que é realmente ser uma mulher na tomada de decisão, ganhei a experiência de trabalhar em equipa… Não foi nada fácil porque tudo era novo: deixar a minha familia, os meus amigos, para vir integrar numa nova sociedade. Mesmo assim, consegui adaptar-me a tudo e entrei no ritimo.
Nos seis meses do curso de Manutenção e Reparação de Bombas aprendi sobre a importância da Água para a sociedade, sobre as pontes de água, ou seja os furos e os poços. Também aprendi sobre a Bomba Hidro Vergnet 3C e Inkar e participei no estágio de um mês nos setores de Nhacra e Mansoa. Durante todos os dias do estágio tive contato direto com a bomba Inkar, fazendo o diagnóstico e a manutenção da mesma. Sem esquecer os pacotes de formações complementares nos domínios de controle e qualidade de água e saneamento básico, e do aplicativo de inquérito Mwater.
Na base de todos esses conhecimentos adquirido ao longo do curso, espero usar as minhas experiências para diminuir as dificuldades das famílias nas zonas com menos desenvolvimento, e usar as técnicas que aprendi para acabar com o consumo de água contaminada e poluídas. Quero formar e informar a comunidade sobre controle e qualidade de Água e medidas de prevenção e cuidados com a poluição do meio ambiente para que, num futuro próximo, possa dar a minha contribuição aplicando as minhas competências no setor da Água na Guiné-Bissau.
Gostaria de agradecer aos meus parceiros, nomeadamente TESE e ADPP e à Direção da Escola Vocacional de Bissorã, sem esquecer os meus professores, em especial o professor do meu curso.
Agosto de 2021
Idjatu Djalo
Contexto
A intervenção da Ação Ianda Guiné! Lus ku iagu, implementada pela TESE, ADPP e ASPAAB, centra-se na melhoria das infraestruturas de distribuição de água e energia e de serviços de saneamento básico, aliadas a uma gestão transparente e eficiente dos serviços, beneficiando famílias e comunidades em áreas rurais e semiurbanas até 2024 nas regiões de Bafatá, Bolama/Bijagós e Oio.
Visando contribuir para uma gestão adequada do fornecimento de serviços de distribuição de água e energia prevêem-se atividades de formação e capacitação, tanto a nível técnico, como de gestão, a partir de serviços locais. Isto permitirá, a curto prazo, diminuir a dependência de técnicos e da disponibilidade de peças que se encontram na capital, em Bissau, ou, até mesmo, no estrangeiro. Esta meta será atingida através da formação e capacitação técnica em reparação de bombas, pequenas redes de água e sistemas solares fotovoltaicos.
Nesta série, intitulada Tustumunhu Lus ku iagu (testemunhos, em crioulo), vamos focar nos 30 técnicos a serem formados em instalação e manutenção de bombas de água e sistemas fotovoltaicos para criação de próprio negócio. Estes estão a ser formados em regime de internato e certificados através da Escola Vocacional de Bissorã (gerida pela ADPP, co-implementadora da Ação). Os técnicos formados serão aprovados e certificados pela Escola e integrados numa lista oficial de técnicos reparadores pela Direção Geral de Recursos Hídricos. Receberão ainda um veículo de serviço (bicicleta), equipamento de proteção individual, uma mala de ferramentas e um smartphone, enquanto incentivo para início das suas funções.
Os 30 futuros técnicos passaram por um processo de seleção de várias fases. A primeira foi a da pré-seleção. Foram identificados pelos pontos focais das localidades de intervenção, pelo menos, dois candidatos, com base em requisitos específicos apresentados pela Ação Lus ku iagu. Após a identificação dos candidatos, foram realizadas entrevistas e um teste de pré-seleção. Os candidatos com melhor aproveitamento nesta fase, foram encaminhados para a fase de seleção prevista pela Escola Vocacional de Bissorã, onde foi aplicado um teste de admissão. Os trinta técnicos selecionados iniciaram a formação no mês de fevereiro de 2021 e irão concluir no mês de dezembro.
Leia a história de três desses formandos, escrita por cada um deles e editado para clareza: Alfa Embaló, Eliezer Muatizy Gomes, e Idjatu Djaló. É de ressalvar que, apesar dos esforços da Ação Lus ku iagu para incentivar candidaturas femininas, Idjatu Djaló foi a única a passar o processo de seleção e a participar agora da formação.